sábado, 29 de maio de 2010

Popular ou Populista?

Dois termos relacionados à imagem de Lula. Porém, especialistas afirmam: "pode ser perigoso confundir seus significados"




















Por Andréa Garbim

Entre as mais fortes personalidades da política, atualmente rotuladas como populistas, destaca-se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que optou por um caminho conservador, vindo de iniciativas tomadas de cima para baixo, abraçando a política neoliberal macroeconômica de FHC. O líder tomou providências que promoveram a ascensão social da camada dos mais pobres - não no caminho revolucionário da ruptura por baixo, mas pela via sancionada do acesso ao mercado, base suprema do modelo capitalista.

O professor de Ciências Políticas da UniBrasil, Emerson Cervi, segue a definição dos cientistas sociais e não considera Lula um populista. “Trata-se de um líder político popular e não populista. Ele respeita as instituições e não promove políticas economicamente irresponsáveis, ao contrário do que o termo sugere”, afirmou.

O governo brasileiro, por sua vez, toma medidas e tem seu foco nas classes mais baixas, que seriam as mais prejudicadas em caso de crise. Programas sociais típicos do governo Lula como “Minha Casa, Minha Vida” e o “Bolsa Família”, têm o objetivo de evitar que as classes menos favorecidas ou os excluídos sofram as consequências da tensão, permitindo a geração de empregos e o crescimento do país.

Para o doutor em Ciência Política da USP, José Paulo Martins, a idéia de populismo surge quando o presidente da república manobra a massa popular em busca de objetivos por fora das instituições, usando a massa para pressionar o congresso. “Eu não entendo que o Lula seja exatamente um populista. Ele é muito mais popular; busca falar a língua do povo numa comunicação direta, sempre mantendo o respeito pelas instituições - mesmo com seus escorregões -, ele sempre foi ligado aos partidos políticos”, enfatizou.

Martins ainda explica que o que está por trás dos discursos de todo político é a vontade de se manter no poder. Independente do líder, boa parte das políticas públicas, são realizadas com o intuito de maximizar os votos; o mesmo acontece com Lula. Outra observação apontada por Martins é a forma de condução do governo, que fez da imagem de Lula se associar diretamente à massa.

No caso do Brasil, a estabilidade econômica que foi mantida (mesmo durante a crise mundial), as conquistas do aumento de salário mínimo, o Bolsa Família – que estão atreladas ao cenário econômico, fizeram com que a maioria das pessoas tivesse mais dinheiro no bolso, do que no passado. “O principal termômetro da avaliação de governo é a condução econômica. Se a economia vai bem, o governo vai bem. Se a economia vai mal, o governo vai mal”, acrescenta Martins.

Seguindo o raciocínio do especialista, podemos entender que Lula sempre se baseou em elementos populares, porque ele é do povo, metalúrgico e um trabalhador que ao longo do tempo se vinculou aos sindicatos, fazendo carreira política. Em 1994, tinha um discurso radical de esquerda sem sucesso. Porém, como a maioria do eleitorado brasileiro é conservador – não aceita as transformações de baixo para cima, Lula foi transformando seu discurso em conservador, com o objetivo de manter a estabilidade, os contratos, sempre utilizando um linguajar popular, para se aproximar da massa.

O cientista político da UFRJ, Henrique Castro também acredita que Lula se vale pela sua popularidade, firmando seu espaço político depois de quatro candidaturas, ele desenvolveu no campo político uma trajetória de persistência e quando conseguiu finalmente chegar à presidência, ele soube durante esses oito anos, transformar sua imagem numa popularidade frente às ações mais ligadas às questões sociais que ele implementou no governo.

Castro enfatiza que um governo populista seria uma espécie de “aparelho” do Estado, que impõe uma censura para que ninguém o critique, deixando apenas que a boa imagem do líder seja divulgada, através dos meios de comunicação. “Sou contrário a dizer que o governo Lula, ou o próprio seja populista. Eu diria que ele é um popular, no sentido desse termo conseguir traduzir exatamente a reação da massa - que o aprova, o admira, seja pelo carisma ou pelas políticas aplicadas”.

Em relação às políticas públicas, o especialista explica que na maioria das vezes elas ganham uma espécie de “roupagem” especial – que seria um meio do marketing do governo passar mais simplicidade às ações de Lula. Então quando ele cria uma nomenclatura como o PAC e o Bolsa Família, é uma forma de tornar mais acessível, à população, o conhecimento do tipo de política que está sendo implementada. Não esquecendo que há um interesse em utilizar essa boa imagem, principalmente pela dinâmica da política regional – quando os políticos, que apóiam o governo, procuram “colar” sua imagem a esses programas – considerados positivos pela massa - que por sua vez sente a necessidade de ver resultados práticos na sua realidade. E o Lula conseguiu tornar tudo isso muito real e presente, através da divulgação dessas ações.

Por fim, afirmarmos que se trata de um erro grave dizer que um líder que tem sido capaz de construir, com políticas públicas, um novo ambiente econômico e social para o desenvolvimento de milhões de pessoas, seja entendido como um populista. É urgente debatermos o assunto, pois esse novo espaço nos possibilita imensas oportunidades e a responsabilidade de termos de construir de baixo para cima, um país mais justo e democrático.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Evo Morales nacionaliza 4 geradoras de eletricidade

Presidente da Bolívia diz que agora controla 80% do setor

O presidente da Bolívia, Evo Morales, aproveitou ontem as comemorações pelo Dia do Trabalho para ordenar a nacionalização de quatro empresas geradoras de energia elétrica.

As empresas visadas pela medida são a Corani, controlada pelo Inversiones Econergy Bolívia SA (subsidiária da francesa GDF Suez), a Guaracachi, nas mãos da britânica Ruelec PLC, a Valle Hermoso, controlada pelo consórcio boliviano Bolivian Generating Group, e a Empresa de Luz y Fuerza Eléctrica, da região de Cochabamba (reduto oposicionista).

O governo boliviano prometeu que as empresas afetadas pela medida serão indenizadas, após as deduções de todos os seus passivos.

A estatal Empresa Nacional de Eletrificação, que assumirá o controle administrativo da rede de geração e distribuição de eletricidade no país, disse que a nacionalização de ontem representa "uma das maiores conquistas" do processo que o governo esquerdista de Evo Morales, no poder desde 2006, chama de "revolução cultural".

Morales afirmou que o governo agora controla ao menos 80% da geração de eletricidade no país e que pretende dominar o setor em breve.
Morales, o primeiro presidente indígena na história da Bolívia e aliado do venezuelano Hugo Chávez, já nacionalizou as indústrias do petróleo e do gás natural, causando atrito com investidores estrangeiros.

Fonte: Folha de S.Paulo