quarta-feira, 24 de junho de 2009

Uma imagem que vale ouro

Por Andréa Garbim

O incrível sucesso da imagem do atual presidente dos EUA, Barack Obama, é resultado de uma trajetória política que foi sendo lapidada ao longo de suas experiências. Desde jovem, cultivava paixão pelos livros e por literatura - para ele “os livros mostram o verdadeiro poder das palavras”, o que o levou ao enriquecimento intelectual e à vitória das eleições presidenciais.


Ainda na época de faculdade, quando protestava contra o apartheid (regime segundo o qual os brancos detinham o poder e os povos restantes eram obrigados a viver separados dos brancos, de acordo com regras que os impediam de ser verdadeiros cidadãos) na África do Sul, foi percebendo que as pessoas começaram a ouvir e assimilar suas opiniões, durante seus discursos. Ele recebia elogios pelas palavras que inspiravam longos pronunciamentos e com isso, sua apreciação pela magia da linguagem e seu amor pela leitura cresceu. Isso não só o dotou de uma enorme capacidade de se comunicar, como também o ajudou a definir seu senso de identidade e sua percepção de mundo.

Barack Obama chegou ao poder celebrado por feitos inéditos e com uma grande missão pela frente: combater uma grave crise financeira. E dois aspectos distintos podem resumir a importância da sua imagem: o primeiro seria a construção dessa imagem, pois ele se tornou um fenômeno e sua eleição provou que uma campanha pode ir muito além da política em si. A campanha presidencial denominada ”Obamania” causou uma importante projeção da sua imagem política, que já globalizava grandes demandas dos setores considerados minoritários ou marginalizados politicamente.

Para o especialista e mestre em ciências políticas da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) Rudá Ricci, Obama, enquanto politico não é tão progressista ou historicamente vinculado aos movimentos sociais. Mas por ter sido o primeiro candidato negro e um intelectual jovem de Harward, sua campanha se tornou ainda mais impressionante aos olhos do mundo, atingindo diversos segmentos, como por exemplo, o ambiental.

O segundo aspecto são as características dessa campanha, que se utilizou de modernos instrumentos, visto que nos EUA, o uso da internet em campanhas políticas é muito comum. A diferença da estratégia de Obama está no uso dessas tecnologias e métodos da web 2.0. “Eu mesmo me envolvi em algumas discussões da América Latina, por intermédio de um movimento social, em que as pessoas enviavam mensagens através da internet, e no dia em que ele ganhou as eleições, foi montado um painel de leitura, em Washington, que disponibilizou essas mensagens, vindas de toda América Latina”, explicou Ricci.

Para se ter uma idéia, as pessoas cadastradas no site oficial da campanha, receberam e-mails, convites, pedidos de ajuda financeira, vídeos, material de campanha, relatos da campanha, atividades da equipe, entre outras mensagens do próprio candidato. Ou seja, não era mais a campanha do Obama, mas uma campanha de militantes sociais da América Latina.

Outra característica seria o discurso de humildade que Obama utiliza, a exemplo da reunião de líderes do G20, onde ele disse que o presidente Lula “é o cara” (my man) e que o político brasileiro é “o político mais popular do mundo”. E ao se referir dessa maneira, acabou criando uma situação muito agradável de relacionamento com a América Latina. Depois dessa fala, a pessoa mais comentada foi o próprio Obama, e não o Lula. Com isso é possível enxergar a existência de uma dicotomia, ou seja, uma bifurcação entre o que foi a campanha e a movimentação da massa, dos novos meios de comunicação, e o que ele mesmo construiu em benefício de sua imagem, observa o especialista.

A estratégia de marketing também foi ferramenta essencial, usada como calmante para a nação americana. Ao falar do balanço dos 100 primeiros dias de governo, Obama demonstrava grande preocupação quanto ao princípio de sua atuação, pois esse famoso balanço é extremamente importante na história política dos EUA. Ao saber que ele seria o próximo presidente, se atentou a um cuidado: o de dizer que a crise duraria 10 anos. “Ele teve esse cuidado pela proporção que a crise foi tomando. Com certeza, ele não falaria isso se a crise não fosse tão pesada”, lembrou Ricci.

Para o especialista, Obama já estava preocupado com a repercussão e a demanda que ficaria sob sua responsabilidade, por isso usou sua imagem, seus discursos da melhor forma possível. “Com muita cautela, ele já comanda a própria agenda. E alguns analistas políticos dizem que há muito tempo os EUA não tinham um presidente tão à esquerda, no estilo de esquerda liberal. Mas de fato Barack Obama vem comandando uma mudança de planos, porém, com muito cuidado, porque a situação norte-americana ainda não é tranquila.

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